Esse texto já devia ter sido escrito. Ele vem repleto de memórias de um tempo que há muito, ficou para trás.

Era 1989. Eu começava a escrever meu primeiro diário. Eu tinha 10 anos. Os relatos são simples… Muito das minhas avós, muito de quitutes, muito de férias. Uma sensação ímpar poder lê-los ainda hoje. Um orgulho imenso – de mim mesma – tê-los guardado por mais de 35 anos.

Escrever diários foi influência da minha mãe que também escrevera os seus… Cheios de recortes, cartinhas de amigas, de amores… e até um desenho que representava a filha que ela um dia teria… Fernanda. Eu.

Lembro da gente no chão do quarto… caderninhos amarelados aos montes… e a gente rindo das histórias e a minha vontade de guardar também as minhas memórias.

Bom… Preciso voltar um pouquinho mais no tempo… e conduzi-los para onde, de fato, nasce um possível escritor.

Nos livros… Sim, eu sempre gostei dos livros.

Lembro da coleção infinita da Mary e Eliardo França – “O pote de melado”, “O vento”, “O rabo do gato”…

Monteiro Lobato… Com o meu preferido “Reinações de Narizinho”…

E de quando “engatei” de vez na leitura e li os mais óbvios… “O pequeno príncipe”, “O menino do dedo verde”, “O diário de Ana Maria”…

E então surge a imagem… Férias… Aquela piscina geladinha, mil brincadeiras com a minha irmã… Saio, me enrolo na toalha, sento na espreguiçadeira e pego meu livro. Que delícia de recordação.

Enfim… retomando o fluxo do tempo…

Trabalho da escola. Escrever um livro com tema livre. Segunda série do Fundamental 1. Tia Priscila – professora que me deu aula durante 2 anos seguidos e me colocava para corrigir provas enquanto ensinava o restante da turma. Ela dizia: “Fernanda, depois você pega a matéria…”. Vendo pela ótica atual, super errado. Mas eu adorava ser a assistente e ela devia saber disso.

O livro – cuja versão original está nas fotos que acompanham esse texto – intitulei: “A menina que queria ser gente grande”. Para as ilustrações, usei aqueles livros de decalque. (Quem nasceu nos anos 80, talvez saiba do que estou falando). A história… Uma menina que conversa com a mãe sobre o significado de ser adulta. Pela experiência da mãe, ela nota as dificuldades, alegrias, nuances. Bonito de ler e perceber que aquela menina, era eu.

Depois desse livro, vieram outros… Todos com capa, biografia, ilustrações (normalmente com adesivos fofinhos), temas diversos…

“Tuxedo Sam”, um pinguim que sofria bullying na escola; “Naiara, a ursinha”, história de amor… “Estações do ano”, “Imaginação”, “Festa dos bichos”, “Ecologia”. E eu tenho todos eles, originais, aqui. Do meu lado, agora… 🙂

Alguns, tenho em versão computadorizada. Meu tio trabalhava em um lugar que já tinha computador – se é que podemos chamar assim – e impressora. Quase uma odisseia reescrever cada palavra usando um teclado, salvar no disquete, imprimir. Que viagem…

Novamente, tempo que segue…

Adolescência. Paixonites, desilusões, namoros mais sérios. Poesia. Muita poesia.

Agora o cenário é outro.

Sozinha no quarto, à noite, janela aberta para ver a lua que era fonte de inspiração. Sentimentos fortes, muitas vezes confusos, ansiedade, força. E as palavras fluíam. E eu lembro tanto dessa fluência… desenfreada. E das rimas. E da paz que se instalava depois de folhas e mais folhas de papel escritas. Saudade.

Não havia rede social, obviamente. Então muita coisa guardei só para mim. Outras enviei como carta. Outras, rasguei. Outras tantas, estão aqui. Impressas. Que bom que guardei.

Eu não costumo guardar muita coisa. Sou desapegada.

Na minha sacola “da vida”, restaram apenas os mesmos diários, livrinhos e poesias que descrevi acima…

E hoje, eles voltam a fazer sentido.

E trazem um significado imenso para a Nossa Escrita.

Empresa que vem carregada de história, de amor, entrega, esperança.

Finalizo esse texto com uma mistura gostosa de todos os sentimentos que ele despertou e com a certeza de que, enfim, encontrei meu caminho.

Aproveito para agradecer a todos os envolvidos…

Amores, amigos, parentes…

À lua, ao sol… janelas e portas abertas…

E, em especial, à minha mãe e meu pai, que me apoiam desde sempre

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